POR TRÁS DA LENDA
Os gnomos da floresta
- Irlanda,1923 –
Carina
tinha onze anos, cabelos castanhos e olhos verdes. Morava com sua mãe, Lúcia,
na capital da Irlanda. Seu pai havia morrido na primeira guerra mundial, quando
ela era ainda muito pequena. O que mais Carina gostava era de passar as férias
na casa da avó paterna, D. Sula, que ficava perto da floresta. Era uma casa
toda feita de madeira que tinha uma grande lareira na sala, onde as duas
tomavam chocolate quente nos dias frios de inverno e sua vó lhe contava várias
histórias sobre os seres da floresta. Como sempre, as férias chegaram e Carina
foi correndo para casa.
O inverno chegava sorrateiro, se
embrenhando pelas florestas. A casa de D. Sula ficava no meio da mata e era
cercada por pequenos lagos que, agora, se encontravam todos congelados.
Ao chegar
à casa da avó, enquanto tirava as coisas do carro, Carina varreu o jardim com o
olhar e viu um homenzinho engraçado, muito pequeno para o normal, que usava um
chapéu pontudo e vermelho e estava pondo adubo nas plantas.
A casa
tinha um telhado pontudo e uma chaminé ligeiramente torta. As ripas de madeira
que cobriam as paredes eram ornamentadas e as que cobriam o teto eram em forma
de losango. Dispostas dos dois lados de uma porta vermelha estavam as janelas,
com a parte de cima arredondada.
De
repente, uma cortina em uma das pequenas janelas balançou um pouco e um vulto
passou por ela. Então, subitamente como tinha se mexido, a cortina voltou ao
seu lugar e a porta da casinha abriu-se com um baque.
- Minha netinha chegou! – gritou D. Sula ao abrir a porta.
Carina olhou para sua avó por um segundo e ao olhar novamente para o lugar onde
estava o homenzinho viu que ele não se encontrava mais lá. – Vamos entrando
minhas queridas!
À medida que se encaminhava para entrar na casa, Carina
olhava para onde tinha visto o homenzinho, mas ele não voltou a aparecer.
Depois
do jantar Carina foi para o quarto e ficou parada olhando pela janela. Havia
começado a chover. A chuva molhava as flores, que balançavam com o vento forte,
e chicoteava a janela de vidro do quarto da menina.
- O que foi querida? – disse D. Sula, ao adentrar o quarto.
– O que está olhando?
- Estava procurando seu jardineiro!
- Mas... Eu não tenho jardineiro minha querida! – disse D.
Sula. – Mas pode ser que...
- O que vovó?
- Nada querida, nada!
Naquela
noite, D. Sula foi até a biblioteca e pegou um grande livro que parecia não ser
usado há muito tempo, pois estava todo empoeirado. O livro tinha uma capa de
couro e dizia em letras douradas: “Criaturas da Floresta”. Carina acordou e foi
até a cozinha para pegar um copo de água e, vendo uma luz acesa na biblioteca,
resolveu ir até lá.
- Vovó, o que você está fazendo aqui?
- Estou dando uma olhada nesse livro, minha querida! –
disse D. Sula oferecendo um chocolate de uma caixa de madeira.
- O que diz aí vovó? – falou Carina, comendo o chocolate.
- Esse livro fala sobre as criaturas mágicas que vivem na
floresta... Quando você falou que tinha visto um homenzinho no meu jardim, eu
desconfiei que pudesse ser um gnomo e vim procurar algo sobre eles no livro.
- E era um gnomo vovó? – disse Carina curiosa. D. Sula fez
que sim com a cabeça. – E o que diz aí sobre eles?
- Aqui diz... – D. Sula começou a ler. – Os gnomos são
seres que se dedicam à proteção das florestas. São seres elementais, espíritos
da natureza. Eles são os elementais da terra. E vivem em torno de 300 anos.
Quando um deles nasce, é plantada uma árvore que só morre se o gnomo morrer. Se
a árvore é cortada, a vida do gnomo acaba. O maior desafio dos gnomos é
enfrentar os troll. Existem vários tipos de gnomos: o gnomo da floresta, do
deserto, do jardim, da fazenda e o gnomo siberiano. Dizem que quem roubar o
chapéu de um gnomo pode controlá-lo e obrigá-lo a realizar seus desejos. Aqui,
na Irlanda, é muito comum procurar no fim do arco-íris um grande pote de ouro.
De manhã,
Carina, sua mãe e D. Sula, estavam tomando café quando a menina disse que tinha
visto o gnomo pela manhã, quando acordou. Lúcia, mãe de Carina, que botava um
pouco de café em sua xícara, parou de repente.
- O que você disse? – Lúcia falou, parecendo muito
aborrecida. – Sula, eu não acredito que ainda está contando essas histórias
absurdas para Carina.
- Desculpe Lúcia, mas é que...
- Eu espero sinceramente que não se fale em gnomos e outros
seres da floresta durante o tempo que minha filha passar aqui!
- Como quiser Lúcia!
- Assim espero.
- Mas mãe...
- Nada de mais Carina. Ou prefere ir para casa hoje mesmo?
- Desculpe! – disse Carina levantando-se e indo para o seu
quarto.
Depois do
café, Lúcia se despediu de sua filha e de D. Sula e voltou para sua casa, na
cidade. Carina correu até a biblioteca, pegou o livro que sua vó estava lendo
pra ela na noite passada e abriu no índice. Seus dedos longos e finos
percorreram calmamente os vários nomes de criaturas da floresta, parando em “gnomos”.
Ela foi até o segundo parágrafo e leu.
- Os gnomos são trabalhadores e prestativos. Seus tesouros,
ao contrário do que muitos pensam, ficam escondidos em tocos de árvores e
minas, mas não é fácil achá-los. Artesãos habilidosos, os gnomos produzem
lindas jóias de metais preciosos brutos e as guardam muito bem ou as dão para
pessoas realmente especiais que mereçam sua gratidão por algum motivo. – Carina
continuava lendo sobre os gnomos e não percebeu que uma pequena luz cor de rosa
havia aberto a janela e entrado na biblioteca. A luzinha pousou no livro e deu
um susto em Carina. – Quem é você? O que
é você?
- Eu sou uma fada. Não dá pra notar? – disse a fada, suas
grandes asas transparentes do tipo “colibri” (sendo duas asas maiores e outras
duas menores, complementares) agora haviam parado de se mexer freneticamente.
- É que eu nunca vi um ser mágico antes! – Carina falou
maravilhada, se recuperando do susto.
- Eu ajudo sua avó com o jardim e...
- Você mora na floresta?
- Bom... Tecnicamente sim.
- Então pode me mostrar um gnomo?
- Claro! Posso te levar até o centro da floresta, é onde
estão os gnomos. Mas eu quero uma coisa em troca.
- Ai mais essa! Era só o que me faltava, uma fada
interesseira.
- Ora... Não se adquire alguma coisa por nada! Vai lhe
custar uma ninharia. Você nem vai sentir falta. O que eu quero é... O seu
medalhão.
- Eu não posso te dar ele. É herança de família! Mas você
pode ficar... – Carina pensou um pouco - Com os meus brincos.
- Está bem. – Carina tirou os brincos e os deu a fadinha,
que virou-se como quem fosse embora.
- Mas você não vai me mostrar o gnomo?
- Ah é mesmo, já ia esquecendo. Que cabeça a minha não?
Bom... Mas eu tenho que te avisar que a floresta não é como todos pensam. Ela é
cheia de perigos escondidos e sombrios... – disse a fada e mudou repentinamente
de um tom assustador para um alegre e serelepe. - Meu nome é Leana e eu vou ser
sua guia nessa aventura, ai... – disse a fadinha suspirando. - Eu sempre quis
dizer isso.
O sol
nasceu calma e lindamente no horizonte. Carina acordou, tomou café e foi ao
encontro de Leana na entrada da floresta, perto de um grande carvalho iluminado
pela luz da manhã. A neblina estava fazendo suas manobras costumeiras pairando
acima da grama. Estava mais densa do que o normal porque Carina tinha saído de
casa um pouco mais cedo da hora habitual. O sol mal havia nascido e até a
poeira estava um pouco mais úmida por causa do orvalho ainda agarrado a grama.
As duas
estavam andando por entre as altas árvores há um bom tempo quando Carina disse:
- De que perigos você tava falando ontem, Leana?
- De algumas criaturas da floresta! Por exemplo... – A fada
parou de falar ao ver um homenzinho com um chapéu de três pontas e um avental
de couro à frente delas. Suas roupas eram parecidas com roupas da idade
medieval.
- Por acaso... – disse ele. – Vocês não querem comprar...
Botas?
- Não obrigada! Não estamos interessadas. – disse Leana.
- Mas... Será que eu não posso fazê-las mudar de idéia?
- Você não ouviu o que eu falei? – a fada falou aborrecida,
aborrecida.
- Se vocês comprarem uma bota eu posso mostrar o meu...
tesouro.
- Tesouro? – disse Carina, parecendo hipnotizada. Seus
olhos brilharam e começaram a mudar de verde para um tom avermelhado.
- É melhor irmos Carina! – disse Leana, puxando o cabelo da
garota.
As duas se
distanciaram do homenzinho, que agora pulava de raiva. Carina balançava a
cabeça como se estivesse saindo de um transe.
- O que era aquilo? – perguntou.
- Um Leprechaun.
- Um Lê... O que?
- Leprechaun. É um tremendo enganador safado – disse a
fadinha com raiva. – Ele diz que tem um tesouro e hipnotiza as pessoas para que
comprem suas botas. Esse é um dos perigos da floresta. Mas o maior dos perigos
são os gremillins. Os que vivem nas cidades são mais pacíficos e não saem de
suas tocas por medo dos humanos, mas os das florestas são maus e perigosos. Com
aquelas garras afiadas... Eles vivem nas cavernas, só na espreita de alguma
presa. São até mesmo piores que os troll.
- Os troll?
- São criaturas más e sem coração. Sem cérebro também. – Leana
falou, rindo.
- E o que tem de bom aqui na floresta além das fadas e dos
gnomos?
- Os elfos! – disse a fada, feliz. – São imortais... Quer
dizer, quase. Eles morrem, mas só se forem assassinados! Os elfos do ar se
parecem bastante com os fados.
- E... Algum já... – disse Carina sem jeito. Leana fez que
sim com a cabeça quando uma luz, rápida e brilhante, passou pelas duas, dando
um susto em Carina. – O que foi isso?
- Um elfo! – disse Leana se derretendo. – Olá Bruce...
- Oi Le! – disse ele sem parar de voar. – Tudo bem?
- Melhor agora!
- Quem era? – disse Carina quando o elfo se afastou.
- Bruce. Ele é um elfo do ar!
- E você é caidinha por ele...
- É verdade! Mas ele nem percebe que eu existo. Viu como
ele me trata?
- Ah... Deve ser o jeito dele. Mas de uma coisa eu sei:
Nunca desista.
Fazia um
pouco de frio quando Carina e Leana chegaram a uma parte fechada da floresta,
mas nada que não se pudesse agüentar. As árvores eram grandes e suas copas se
juntavam umas com as outras fazendo o céu sumir entre as folhas. O cheiro de
relva se misturava com o cheiro forte de incenso que vinha de dentro dos
arbustos.
- É aqui!
- Então vamos! – disse Carina, indo em direção aos
arbustos.
- Não... – disse a fada puxando uma mecha de cabelo de Carina.
– Você não pode ir lá!
- Ai, o que foi? Porque eu não posso ir?
- Bom... Porque eles são meio... Chatos!
- Como assim?
- É que... Eles não gostam muito de humanos. Aliás... Eles
não gostam muito de ninguém. Vivem isolados, cada um com sua família e as
famílias quase nunca se falam e eles também não falam com os outros seres da
floresta.
- Mas então porque um deles estava cuidando do jardim da
minha avó?
- Gnomos cuidam da natureza... Eles protegem as plantas e
os animais da floresta!
- Leana, podemos voltar amanhã... É que já está ficando
tarde e minha avó pode ficar preocupada.
- Está bem. Voltaremos amanhã então... – disse a fada,
voando para perto de Carina. - Mas nada de chegar muito perto dos gnomos.
Carina
chegou em casa, subiu as escadas correndo e se deitou. Ainda sentia o cheiro
forte de incenso, que parecia ser de canela. Estava quase dormindo quando a
porta do seu quarto abriu. Era sua avó.
- Boa noite Carina! Sonhe com os anjos e não se esqueça de
dar boa noite aos duendes.
- Boa noite vovó!
Carina
bateu três vezes na madeira da cama e adormeceu. Pouco tempo depois, uma
intensa luz verde surgiu em baixo de sua cama e de debaixo dela, saiu um
homenzinho com um gorro pontiagudo azul. Ele subiu na cama, ajeitou o lençol de
Carina e pulou novamente para o chão. Depois, saiu pela porta entreaberta e a
lua sorridente, que antes estava escondida por entre as nuvens, voltou a
iluminar o lindo rosto de Carina.
O sol nasceu
por trás das altas árvores da floresta. Carina acordou e levantou-se rapidamente.
Vestiu-se e desceu ao encontro de sua nova amiga fada. As duas andaram até
chegar perto da cidade dos gnomos. Uma música alegre e festiva ecoava pela
floresta. Carina se embrenhou pelo matagal e viu vários gnomos dançando e
cantando numa bela festa. Ela não percebeu que uma gnomida se aproximava de
onde ela estava. A gnomida teve um grande susto, mas antes que pudesse gritar,
Carina pôs a mão em sua boca e foi tirando calmamente à medida que a criaturinha
se acalmava.
- Desculpe ter te assustado! – disse Carina.
- Não, tudo bem... Eu pensei que fosse um troll. É que eu
nunca tinha visto um ser humano antes. – disse a gnomida. – Na verdade... Eu
nunca vi nenhum outro ser da floresta a não ser os maléficos troll que vivem
tentando invadir a terra dos gnomos.
- Eu sou Carina e essa e a fada Leana!
- Meu nome é Enya. É melhor vocês irem embora antes que as
vejam aqui!
- Espere! – disse Carina. – O que está havendo? É algum tipo
de festa?
- É sim. – respondeu a gnomida. – Hoje o príncipe Amir
atinge a maioridade e se torna rei. Todos estão muito felizes porque o príncipe
é um gnomo bom e justo.
- E que tipo de comida estão servindo lá? – perguntou Leana,
interessada.
- Muitas coisas deliciosas. – disse Enya. – Os melhores
cozinheiros gnômicos estão nessa festa e fazem comidas das mais apreciadas na
realeza.
- E não podemos entrar? – disse a fada.
- Desculpem, mas não! – a gnomida falou. – É melhor vocês
irem agora!
Já passava de oito da noite quando Carina
chegou em casa. Estava
tão cansada que logo adormeceu. Batidas baixas na janela, que quase não se dava
para ouvir, soaram docemente aos ouvidos da menina. Carina acordou e olhou pela
janela. Leana, acompanhada por Bruce, a esperava do lado de fora.
- Leana? O que faz aqui? – espantou-se Carina.
- Vim te chamar para assistir ao mais belo espetáculo da
floresta. A dança das salamandras!
- Mas que salamandras? – disse Carina, sonolenta.
- Os elementais do fogo, ora! Elas dançam toda noite de lua
cheia.
- Está bem, eu já vou descer.
Carina se vestiu e desceu ao encontro dos dois.
- Essa é a humana de quem eu te falei! O nome dela é
Carina. – disse a fada. - Ela estava comigo naquele dia, mas como você é muito
desligado não deve ter percebido.
- Eu nunca vi uma humana tão de perto. Prazer, eu sou o
Bruce!
- Já ouvi falar muito de você! – disse Carina e olhou para
a fada, que corou.
- Então a gente vai ou não? – disse Leana, tentando mudar
de assunto.
De cima de
uma árvore, os três esperavam ansiosos para ver a dança das salamandras. Vários
casais e famílias de seres da floresta vinham assistir ao belo espetáculo que
estava para se iniciar. De repente, uma faísca saiu do chão e depois outra e
depois outra mais e logo uma linda fogueira dourada se fez presente no meio da
floresta, iluminando-a. Uma a uma, as salamandras apareciam. Eram belos
guerreiros com caldas de fogo e espadas reluzentes. Elas cruzaram as espadas e
outra salamandra surgiu no meio delas. Era diferente das suas companheiras.
Usava uma coroa de ouro e cristais preciosos e um longo manto de fogo. Era o
rei das salamandras. Era encantadora aquela dança. Elas mudavam de cores e
formas a todo instante. Um duelo foi iniciado até que elas retornaram ao chão
tão rápido como tinham surgido e a floresta escureceu novamente. Carina, Leana
e Bruce desceram da árvore onde estavam. Eles iam pegar o caminho para casa de
Carina quando Enya apareceu. Parecia estar muito assustada.
- Carina rápido. Estamos sendo atacados!
- Atacados por quem? – disse Carina.
- Pelos gremillins ajudados pelos troll. Venha depressa,
você tem que nos ajudar.
- Eu vou chamar os elfos e as fadas! – disse Bruce voando e
desaparecendo na floresta.
Ao chegar
à terra dos gnomos, Carina viu vários deles feridos no chão, mas nem sinal dos
gremillins nem dos troll, ou pelo menos nada que parecesse com as fotos que
tinha visto desses seres. Bruce chegou acompanhado por várias fadas e elfos que
ajudaram os gnomos. Carina olhou para todos os lados, mas não viu nada de
errado. O medo e o sentimento de que tinha algo a observando se apoderou da
garota e a fez não conseguir raciocinar direito. Ela se distanciou, aos poucos,
da terra dos gnomos. Ia correndo entre as moitas, as folhas batiam em seu
rosto. Ela sentiu como três navalhas afiadas lhe cortando a pele. O sangue
jorrou manchando sua blusa branca. Ela caiu no chão, juntamente com seu
medalhão e viu um bando de monstrinhos sanguinários se aproximando dela. Eram
horríveis. Parecia que haviam saído de um filme de terror. Ela não sabia o que
fazer. Estava rodeada por eles, estava cansada e sem conseguir levantar. Os
gremillins vinham em sua direção vagarosamente, todos sorrindo seus sorrisos
maléficos. Sabiam que ela não tinha chance. “É o fim”, pensou. Mas, quase que
inesperadamente, uma após a outra, faíscas douradas saíram do chão formando uma
linda fogueira que rapidamente cessou com o nascer do sol. Então... Carina
desmaiou.
Algum
tempo depois, Carina abriu devagar seus lindos olhos. Estava em um quarto com
paredes de madeira, como se estivesse dentro de uma árvore. Estava cercada por fadas,
elfos e gnomos.
- Que bom que acordou! – disse uma voz familiar. Era Leana
e parecia ter ficado ali todo o tempo. – Você está bem?
- O que aconteceu? – quis saber Carina, que ainda estava um
pouco fraca.
- As salamandras tentaram te salvar, mas então o sol
apareceu bem na hora e como você sabe, aqueles monstrinhos não suportam a luz
da manhã.
- Como vocês conseguiram aumentar de tamanho?
- Nós não aumentamos de tamanho, você é que diminuiu.
- Você comeu uma semente que a fez ficar assim, mas não se
preocupe. Em meia hora voltará ao seu tamanho normal. – disse um velho gnomo
que entrou no quarto. Parecia ser muito respeitado, pois todos fizeram uma
reverência quando ele entrou acompanhado de outro gnomo, mais novo e que não
falou, apenas observou a garota.
- Você... É o gnomo que cuida do jardim da minha avó!
- Isso mesmo! Mas saiba que não faço isso por gostar de
humanos.
- Eu sei... – disse Carina. E não falou mais nada em sinal
de respeito. Tinha ouvido (ou lido) em algum lugar que os gnomos gostavam
disso.
Carina
logo voltou ao seu tamanho normal, como o gnomo tinha dito que aconteceria, e
retornou correndo para a casa de sua avó. Estavam parados em frente à porta
dois carros: O de sua mãe e um carro de polícia. Carina entrou rapidamente em
casa e viu sua avó, sua mãe e uma mulher desconhecida, de longos cabelos lisos
e unhas grandes fortemente pintadas de escarlate, a quem julgou ser a dona do
carro de polícia.
- O que está havendo? – disse ela, fechando a porta.
- Carina, onde você estava? – disse sua mãe preocupada.
- Minha filha, você desapareceu... – disse sua avó
abraçando-a. – Fiquei aflita e chamei sua mãe e a Oficial Torres...
- Essa é a garota? – disse a Oficial. – Bem... Posso ir
então!
- Muito obrigada Oficial – disse D. Sula. – Vamos! A
levarei até a porta.
- Não precisava terem ficado tão preocupadas. Eu estava na
floresta com os gnomos e...
- Na floresta... Carina o que eu lhe disse sobre... – Lúcia
parou ao olhar para o pescoço de Carina. – Onde está o seu medalhão?
- Meu... Meu medalhão? – disse Carina notando que o
medalhão não estava com ela e lembrando que ele tinha ficado na floresta.
- Sim Carina. Onde está o medalhão que era de seu pai?
- Eu acho que o perdi...
- Na floresta? Vai me dizer agora que os gnomos o roubaram?
E que arranhões são esses? – Lúcia parou de repente quando a campanhia tocou.
Carina
foi até a porta e a abriu. Não havia nada nem ninguém lá, apenas uma linda jóia
e um cordão amarrado a um pequeno círculo dourado.
- Meu medalhão! – gritou Carina.
Carina e
sua mãe estavam pondo as malas no carro com a ajuda de D. Sula quando Carina
olhou para a árvore onde tinha visto o gnomo que cuidava do jardim da sua avó e
viu, por trás de uma folha, duas pequenas luzes.
- Olá Leana! Oi Bruce! – disse ela ao chegar
perto deles.
- Então... Você tem mesmo que ir? – disse a fada e Carina
fez que sim com a cabeça.
- É que minha mãe acha melhor eu cuidar dos meus ferimentos
com um médico e como por aqui não tem nenhum...
- Vamos sentir a sua falta – disse Bruce. – Foi muito bom
conhecer você.
- Também foi bom conhecer vocês! Bem... Isso não é
exatamente uma despedida. Quero dizer... Voltarei nas próximas férias. Ah... Recebi
o medalhão, obrigada! E também pela jóia.
- Mas não fomos nós que devolvemos. Foi a Enya. Ela o achou
e perguntou onde você morava para devolvê-lo e em agradecimento ao que você fez
pelos gnomos, eles te mandaram uma jóia feita pelos mais habilidosos artesãos
gnômicos.
- Mas... Eu não fiz nada!
- Não é o que eles acham. – disse a fada sorrindo, e se
distanciou acompanhada pelo elfo.
Fazia uma
semana que Carina tinha chegado em sua casa. Ela estava em seu quarto quando
recebeu uma carta de sua avó. Ela abriu e começou a ler.
“Minha querida neta,
Hoje recebi uma
visita que nem eu mesma acreditei... Uma pequena fada chamada Leana veio aqui e
me entregou um convite que eu levei várias horas pra conseguir ler devido ao
tamanho muito pequeno da letra. No convite dizia que você está convidada para o
casamento dela com um elfo chamado Bruce que vai se realizar no quinto dia
depois da lua cheia deste mês e como sei que você ainda está de férias, creio
que poderá comparecer a festa. Ela também pediu para eu agradecer a você pelo
conselho de nunca desistir e que depois lhe conta como ela conseguiu essa
proeza. Ah... Outra coisa! Ela pediu para lembrar que todas as criaturas (boas)
da floresta vão estar presentes, inclusive os gnomos.
Espero que venha logo.
Um grande beijo da sua avó que te ama muito,
Sula.
COMPRE CONTOS DO MUNDO MÁGICO!
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