ETÉREA




SINOPSE


Aether é uma jovem sem passado. Ela foi encontrada pela sua família adotiva quando ainda era criança e não lembra de nada sobre quem é, de onde vem ou mesmo como foi parar na enorme clareira onde foi achada. Quando sonhos cada vez mais insistentes passam a assombrá-la, Aether entende que precisa buscar por sua memórias. Ao iniciar uma jornada para chegar ao seu passado, ela encontra Garin, um misterioso rapaz que decide juntar-se a Aether na viagem. Contudo, ela pode acabar descobrindo que esquecer se passado pode ter sido a melhor coisa que podia ter lhe acontecido.

PRÓLOGO

Um vento gélido. Alguma coisa que ardia nas costas, algo úmido. Era dali que vinha a terrível queimação. E dor. Dor por toda parte. Aos poucos, ela começou a se perceber. Primeiro a mão, que estava em algum lugar daquele corpo. Moveu lentamente os dedos e sentiu dificuldade ao fazer isso. Tentou mover outra parte de seu corpo, mas a dor lhe impedia.
            Ela tentou abrir os olhos, devagar. Uma luz ofuscante a fez fechá-los novamente. Aquilo era como recuperar todos os sentidos de uma só vez, como ver-se entregue ao caos. Um zunido insistente, o cheiro de terra e grama e a percepção do orvalho nas suas costas. Abriu os olhos novamente, agora com mais cautela.

Onde estou?

            A pergunta surgiu em sua mente. E, por mais que tentasse, ela não conseguia encontrar uma resposta. Pestanejou algumas vezes e respirou profundamente. Cada músculo do seu corpo doeu. Tentou virar-se de lado. E novamente a dor a impediu. Olhou para seu braço pálido que estava na lateral de sua cabeça. Olhou a mão iluminada pelos tímidos raios de sol. As cores iam vagarosamente se definindo.

Quem sou?

            Mais uma pergunta que não conseguia responder. Tentou apoiar-se em seus braços. Com muito esforço, conseguiu erguer-se minimamente. Olhou em volta. O céu era de um azul claro, sem sombra de nuvens. O relvado que lhe cercava pareceu infinito. Algumas margaridas pontilhavam a grama baixa.
            Ninguém à vista.
            Tentou puxar pelas lembranças, trazer de volta memórias. Algum nome, um rosto, qualquer coisa... Nada. Sentiu uma fisgada nas costas, no lugar da ardência, como se algo lhe espetasse a carne. Deitou-se novamente na grama e levou uma mão ao local dolorido. Era áspero, escamoso. Ela pensava em como sairia daquela situação. E mais uma vez, não obtinha nenhuma resposta.
            Novamente, esforçou-se para levantar, apoiando as mãos nas laterais do seu corpo. Os músculos dos braços se queixaram. Trincou os dentes, enquanto os lábios soltavam abafados gemidos. Mesmo com a dor, conseguiu flexionar as pernas, apoiando-as no chão para que pudesse sentar-se. Arquejando com a dor e a ardência, esforçou-se para ver o que havia em suas costas.
            Uma pele vermelha e escamosa descia pelas suas costas nuas até o flanco direito. Aquela parte estava mais dolorida do que o resto de seu corpo e ardia muito. Ela começou a sentir frio. Precisava procurar um lugar para se abrigar. Não podia ficar ali.
Ainda trôpega, ficou de pé. Não fazia ideia de quem era, ou de como chegara ali. Baixou os olhos para olhar o corpo. Os braços e pernas, até mesmo os pés, nada lhe era familiar. Nem mesmo a consciência de ser uma criatura feminina sugeria-lhe alguma coisa. Essa sensação lhe angustiava.
Mais uma vez deu uma olhada ao seu redor. A clareira parecia não ter fim. E, então, percebeu uma fina linha mais escura ao fundo, bem longe.

É para lá que você precisa ir.

            Não chegou a se perguntar por quê. Havia falhado nas outras tentativas de achar respostas para suas perguntas. Só sabia que era isso que tinha que fazer. Mexeu-se com cuidado. Era como se nunca tivesse andado antes. Quase não conseguia manter o equilíbrio. Talvez fosse melhor se sentar novamente.

Vou ficar parada até alguém me encontrar.

Um pensamento reconfortante que, só por um momento, pareceu-lhe ser a coisa certa a fazer.

Ninguém vai aparecer. E talvez seja melhor assim.

            Concluiu após refletir melhor sobre aquela situação. Virou, então, o olhar para a linha escura e começou a andar, um passo atrás do outro, insegura. Ao redor dela, a grama ondeava molemente ao leve sopro do vento frio. Naquele nada em que sua mente estava mergulhada, no terror que a dominava, agora ela tinha um objetivo. E precisava alcançá-lo.

            Viu as árvores surgindo diante de si, cada vez mais altas, à medida que se aproximava. Observou-as como se fossem uma miragem. Estava exausta. As costas continuavam a arder. Seu corpo ainda doía. A grande bola amarela já tocava o horizonte e o céu explodia em tons de vermelho. Quando afinal chegou a tocar na casca áspera de uma árvore seca, não pôde evitar um sorriso de alívio. Ao menos entre as árvores poderia ficar mais protegida, assim esperava.
            Olhou para trás, para o caminho que tinha percorrido. Não estava em condições de quantificá-lo, nem tinha uma mínima noção do tempo que levara percorrendo-o. Aliás, não se lembrava de como se media o espaço ou como se marcava a passagem de tempo.
            Sentiu o cheiro de algo queimando. E viu, à frente, ainda um tanto distante, no meio da floresta, uma luz trêmula. Queria andar até lá, mas o cansaço a impedia. As pernas não tinham mais força suficiente. Foi quando ouviu algo se mexendo em meio à folhagem das plantas baixas. E enxergou um vulto vindo em sua direção.
            Estava cada vez com menos forças. Deixou-se escorregar ao longo do tronco da árvore na qual se apoiava. E não viu mais nada.




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