LILITH



O livro de Gênesis é bastante debatido no que diz respeito ao que refere à criação humana. Existem questionamentos quanto ao termo "à nossa imagem e semelhança" estar no plural e não no singular, outros questionam o homem ter vindo do barro ou o porquê da mulher (Eva) ter sido feita da costela de Adão. Contudo, uma questão incomum é a presença de uma figura feminina chamada Lilith.

Hoje em dia, Lilith é tida como um demônio. Porém, se analisarmos o Livro do Gênesis, podemos perceber que, na verdade, Lilith pode ter sido a mulher primordial, primeira mulher de Adão, nascida ao mesmo tempo e da mesma matéria que ele, como uma igual e não como como ser inferior. No primeiro capítulo do Livro do Gênesis, versículo 27, está escrito que:

"Deus criou o homem à sua imagem e semelhança; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher". (Gênesis 1:27)

"E Deus os abençoou, e Deus disse-lhe: Frutificai e multiplicai-vos, e enche a terra". (Gênesis 1:28)

Contudo, no segundo capítulo, versículo 18 vemos o seguinte:

"O Senhor Deus disse: Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada". (Gênesis 2:18)

E é apenas no versículo 22 do segundo capítulo que, devido a solidão de Adão, Deus cria a mulher. Mas espera! Ele não já tinha criado uma? Seria essa outra mulher? Se Eva ainda não existia, com quem Adão ia frutificar, multiplicar e encher a terra?

"E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a para junto do homem". (Gênesis 2:22)

"Disse então o homem: Esta sim (ou 'agora sim' em algumas versões), é osso dos meus ossos e carne da minha carne. Ela será chamada mulher, porque do homem foi tirada". (Gênesis 2:23)

E dessa forma, Eva é criada. Acredita-se, então, que no primeiro capítulo a mulher criada seja Lilith e levando em consideração o versículo 23 do capítulo 2, podemos verificar na expressão de Adão "...esta sim..." a afirmativa da existência de outra criatura que não era qualificada como mulher e que não se podia se submeter a ele, pois era independente, estava no mesmo nível de criação, a mesma altura de Adão.

“Deus teria criado um casal: Adão e uma mulher que antecedeu a Eva. Esta mulher primordial teria sido Lilith, figura bastante conhecida da antiga tradição judaica. Lilith não se submeteu à dominação masculina. A sua forma de reivindicar igualdade foi a de recusar a forma de relação sexual com o homem por cima. (...) Lilith foi transformada em um demônio feminino, a rainha da noite, que se tornou a noiva de Samael, o Senhor das forças do mal. (...) Lilith seria uma figura sedutora, de longos cabelos, que voa à noite, como uma coruja, para atacar os homens que dormem sozinhos. (...) Finalmente, uma outra tradição judaica afirma que a lendária rainha de Sabá que teria visitado Salomão nada mais era do que Lilith” (Jardim do Éden Revisitado, Roque de Barros Laraia).

O nome de Lilith pode ter sido retirada da Bíblia durante o Concílio de Trento, a interesse da Igreja Católica, para reforçar o papel das mulheres como seres submissos e não iguais aos homens. Porém, muitas pinturas e esculturas a retratam como a serpente que tentou Eva a comer o fruto proibido do conhecimento.