Degustação A HISTÓRIA DE LILITH



Prólogo


            Enquanto caía daquela árvore, tantos eram os pensamentos em sua cabeça que ela nem sequer sabia dizer se sentia medo do que aconteceria quando seu corpo encontrasse o chão. Nem mesmo teve tempo para pensar sobre o medo, pois, antes que pudesse atingir o chão, algo a segurou. Era uma força invisível que a fez descer suavemente até pisar na grama baixa e orvalhada.
            Sem entender o que estava acontecendo, ela olhou para a os lados buscando qualquer informação que fosse para explicar aquela situação. Contudo, não obteve sucesso. E tomou um susto quando a maçã caiu próxima aos seus pés descalços. Aquela fruta que havia sido responsável por tudo àquilo. A fruta pela qual ela tinha escalado a árvore e de lá despencado.
            Ela olhou para cima. E lá estava uma moça jovem e sorridente, de longos cabelos pretos, que ondulavam com o vento. Lentamente, a moça começou a descer da árvore, parecendo estar sustentada pela mesma força invisível que a havia aparado anteriormente. Ela olhava para a moça, maravilhada.
            Quando, suavemente, a moça chegou ao chão, as duas ficaram frente a frente. Depois, abaixou-se, pegou a maçã e entregou para ela. E os olhos verdes da moça a observaram por algum tempo. Em seguida, ela sorriu e a moça sorriu de volta.
- Quem é você? – perguntou ela, segurando a maçã que lhe havia sido entregue.
- Me chamo Lilith. – a moça respondeu.
- Eu sou...
- Sei quem você é, Eva!



Capítulo um – Recomeço


Vinte e cinco anos haviam se passado desde o nascimento da Filha de Gaia, a manifestação da Deusa na Terra. O antigo Mundo dos Humanos ainda passava por uma intensa reconstrução, mas, por hora, tudo ia bem. Uma nova Era estava começando e, com ela, uma nova história. E ela tem início no Castelo das Sete Eras, a morada de Lilith e seu pai, Alexander.
Também residiam no castelo o pássaro azul Beldof e a fada Tambelin, que haviam sido os companheiros de Aurora, a mãe de Lilith, em sua jornada; e amigos queridos: Beijamin Klinton, que agora não era mais professor de uma famosa universidade, mas gostava de lembrar-se dessa época de sua vida, e Halley, filha do professor e que agora já era adulta e auxiliava na administração do castelo.
            Dessa vez, nenhuma ameaça amedrontava os habitantes de Aislin, também conhecido pelos humanos, na época que estes habitavam o planeta, como Mundo Mágico. Nenhuma nuvem de destruição pairava sobre a Terra. Apenas uma brisa suave soprava pelos quatro cantos do mundo. Não havia com o que se preocupar. Tudo estava em seu perfeito e harmonioso equilíbrio.
Por enquanto.
- Lilith! – disse uma voz suave e baixa, de alguém tão pequena como a palma de uma mão. – Podemos ir até a Ponte do Duende hoje? Nós podíamos colher algumas flores para ornamentar a mesa do almoço.
- Uhum... – disse Lilith, que estava sentada na janela do seu quarto, fixando no horizonte seus olhos azuis cristalinos por trás dos enormes cílios pretos.
A moça era bela. Tinha longos cabelos negros, que quase tocavam o chão quando estava sentada nele.
- Lilith! – chamou a fada. O tempo passa diferente para os imortais. Assim, Tambelin ainda era muito jovem e aparentava não ter envelhecido quase nada nos anos que se passaram.
A fada conhecia Lilith desde que a moça havia nascido. As duas tinham uma ligação muito forte de amizade, parecida com a que Tambelin tinha com Aurora. Aliás, Lilith era muito parecida com a mãe, o que fazia a fada sempre lembrar-se dela. Quando estava com Tambelin, a moça sentia-se mais perto da mãe, já que Aurora e a fada haviam sido melhores amigas por muito tempo.
- Você me ouviu?
- O que? – disse Lilith saindo de seus devaneios. – Me desculpe, Tambelin. O que foi mesmo que você disse?
- Estava te chamando pra ir à Ponte do Duende hoje! – falou a fada, voando até a mão estendida de Lilith.
- Claro, podemos ir! – falou a moça, pouco animada.
- O que aconteceu? – quis saber a fada.
- Nada. É que... – começou Lilith. – Você não está achando a atmosfera um pouco pesada? Como se algo estivesse para acontecer? – Antes que Tambelin pudesse responder, a porta do quarto foi aberta.
- Lilith! – disse Alexander. O pai da moça tinha uma aparência cansada e triste, que nada lembrava o rapaz Alex de vinte e cinco anos atrás. Seus olhos estavam sem vida, sua barba mal feita e seu cabelo despenteado e opaco.
- Bom dia, pai! – falou a moça, indo ao encontro do pai para um abraço carinhoso.
- Bom dia, meu amor! – disse Alexander, beijando a testa da filha.
- O senhor já tomou café? – perguntou Lilith.
- Ainda não!
- Podemos fazer isso juntos! O que acha?
- Uma ótima ideia! – respondeu Alex. – Quer vir também, Tambelin?
- Fica pra próxima! – disse a fada. – Acho que vocês precisam de um momento pai e filha! – Lilith sorriu. Tambelin saiu do quarto voando pela janela.
- Vou preparar uma cesta com tudo o que gostamos! – disse Lilith. – Me encontre no jardim em vinte minutos!

            Os momentos pai e filha eram constates quando Lilith era pequena. E Alex sempre a acompanhava em todos os seus afazeres. Contudo, à medida que a filha foi crescendo, ele não viu mais necessidade de estar tão próximo e os dois acabaram se afastando porque Lilith viajava muito pelo Mundo Mágico devido aos seus compromissos enquanto filha de Gaia. Porém, mesmos tendo poucos momentos juntos, os dois aproveitavam cada segundo da presença do outro.
            Lilith era muito apegada ao pai e ele à filha. Quando não estavam juntos, sentiam muito a falta um do outro. Quando juntos, dava para sentir o carinho, o amor e a cumplicidade dos dois. Lilith cresceu conhecendo sua história e seu destino. Foi preparada para isso desde que nasceu e cresceu ouvindo a história de sua mãe. Sim, Lilith sentia falta de ter uma mãe, mas isso não era o mais lhe incomodava, pois ela tinha o melhor pai de todos. Ela sentia-se triste por ver o sofrimento de seu pai pela morte prematura da esposa.
            Alex nunca quis se envolver com outra mulher depois da morte de Aurora. E não pense que não houve interessadas. Nas grandes comemorações do Mundo Mágico, o Castelo das Sete Eras se enchia de gente. Havia todo tipo de ser que habitava Aislin, mas ele nunca olhou para ninguém. Lilith queria que seu pai se casasse de novo. Queria ver um sorriso que fosse em seu rosto. Queria que seu pai fosse feliz novamente.
- Eu trouxe muitas coisas! – disse Lilith, chegando ao jardim principal do castelo, onde estava seu pai, já sentado na grama fresca de um verde claro luminoso.
A moça colocou a cesta na grama molhada pela chuva fina que caíra de manhã e sentou-se ao lado do pai. Ela abriu a cesta e pegou uma toalha de cor creme e estendeu-a sob a grama. Depois começou a tirar as coisas de dentro da cesta.
- Temos biscoitos de leite e mel, pão doce, queijo, suco de uva, amoras, maçãs... – disse Lilith.
- Tínhamos que ter maçãs. – disse Alex, sorrindo para a filha. Ela ficou feliz com aquilo.
- São minhas frutas preferidas. – falou a moça.
- Filha... – disse Alex servindo-se do suco e pegando um pão doce. – Você receberá uma visita hoje.
- Mas eu estava planejando passar o dia com você e mais tarde prometi a Tambelin que iremos à Ponte do Duende... – falou Lilith, entristecida.
- Você sabe que tem obrigações, Lilith. – disse o pai.
- Eu sei. – a moça respirou fundo. - Pode me acompanhar?
- Claro que sim. Sabe que faço tudo o que me pede...
- Nem tudo... – disse Lilith olhando para baixo. Sabia que havia tocado num ponto incômodo para seu pai.
- Lilith, você sabe que não quero me casar de novo. Quantas vezes tenho que pedir para não falar nisso?
- Mas pai...
- Lilith, chega. – falou Alex, sem elevar o tom de voz, mas com autoridade de um pai e a filha baixou a cabeça. - Esse assunto me esgota demais.
- Você tem passado muito tempo na biblioteca. – disse Lilith, mudando de assunto.
- Foi numa biblioteca que eu e sua mãe nos conhecemos. Era lá que ficávamos mais tempo quando crianças. Sinto-me bem no meio dos livros... Sinto sua mãe mais perto de mim.
- Mas o senhor tem que sair, tomar um sol... não pode ficar trancado para sempre.
- Eu sei que você só quer o melhor pra seu pai, minha filha, mas deixe que eu faça as coisas do meu jeito, mesmo que não seja o modo mais certo de conduzir minha vida, me sinto melhor assim...
- Pai, não gosto de te ver triste pelos cantos do castelo...
- Eu não posso ser triste, eu tenho você como filha. – Disse Alex. Lilith sorriu e abraçou o pai.
- Te amo, pai.
- Também te amo, luz da minha vida.


COMPRE A HISTÓRIA DE LILITH!

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